lunes, 12 de octubre de 2009

Ayrton Senna - Anos de Karting

Sendo por demais fã do Ayrton Senna, tem me picado o bichinho de investigar - na medida do possível, recorrendo a meus livros e com a web como principal recurso - alguma situação ou algum dado não muito conhecido pelo comum dos seguidores.
Agora me cruzou a cabeça a idéia que não existem tantos dados sobre seus começos no kart como sim tem sobre a F-1, que não se conhecem tantos fatos sobre suas corridas de karting como sim sobre suas corridas em Fórmula Ford. Então diz para mim, aí tens um lindo desafio para revelar, e aqui está o resultado de uma mini investigação de pouco mais de uma semana sobre este período de sua vida e os começos de sua carreira como piloto.

Segundo as suas próprias palavras, o primeiro kart que teve foi aos 4 anos. Um presente de seu pai, fabricado por suas próprias mãos usando o motor de uma cortadora de pasto (de um cavalo de força) para ele puder se exercitar e corrigir os problemas de coordenação motriz do pequeno Beco. Usando o número 007 na frente Ayrton brincava junto a seus vizinhos Roberto Kahvogian e Alfredo Popesco do bairro Tremembé (zona noroeste de São Paulo) alcançando uns 60km/h aproveitando a inclinação da Rua Pedro onde morava. E passava na garagem da casa montando e desmontando o presente durante horas e horas, até conseguir a regulagem que ele queria para poder correr na pista do Parque Anhembi.

Novamente papai Milton comprou o primeiro karting de verdade aos 9 anos, um karting que tinha sido nada menos que do Emerson Fittipaldi, pesava menos de 50kg e com freios a disco hidráulicos chegava até os 100 km/h.
Sua primeira corrida foi aos poucos dias em um loteamento em Campinas, contra pilotos de 18 a 20 anos. A largada se definiu por sorteio e ele tirou o número um, obtendo a primeira pole-position de sua vida. Azar ou destino?
Como ele era mais pequeno e leve que seus rivais, se escapou na frente até a volta quinze quando o ultrapassaram e depois, faltando somente três voltas para o final da corrida quando ia terceiro, o tocaram na roda traseira e capotou pela primeira vez... não pôde acabar a corrida.
Seu pai lembra: "Fiz de tudo para ele não entrar na pista. Retirei a inscrição e guardei o kart. Mas a insistência dele foi tão grande que acabei concordando, com uma exigência: não sair da pole, e sim de último. Também perdi essa parada" No momento da capotada, se assustou: "Mataram o moleque!" porem "Cheguei na curva e ele já estava de pé, sacudindo a poeira e olhando feio para o garoto que o tirou do circuito".

Mas como não tem permitido participar em corridas de kart oficiais até não ter 13 anos, Ayrton se contenta seguindo as façanhas de outro paulista, Emerson Fittipaldi. A quem inclusive pôde conhecer pessoalmente no primeiro Grande Prêmio de Brasil em Interlagos em 1972: "Lembro de um pai que me apresentou seu filho. Se chamava Ayrton... Sempre segui explorando este piloto que me surpreendeu por sua velocidade e seriedade."

Sua primeira corrida “oficial” foi no Torneio de Inverno no 1º de julho de 1973 em Interlagos, concorrendo com o karting Nº 42 (interessante eleição do número que significa 'morte' em japonês... já vou postear um extrato do livro de Lemyr Martins ao respeito) e vencendo as duas corridas que disputou, logicamente.
Uma semana antes Milton tinha contratado os serviços de um espanhol mecânico militar chamado Lucio Pascoal Gascon e apelidado "Tchê" quem já tinha trabalhado com Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace, para se desempenhar como mecânico do karting de seu filho. Tchê o acompanharia durante toda sua carreira no karting até 1980, com exclusiva dedicação e criando uma amizade que perduraria no tempo inclusive nos anos da FFord em Inglaterra.
Alguma vez comentou que Ayrton "sempre vinha às corridas para vence-las. Para ele, os outros não existiam". "Ele só corria para vencer. Tentava de moderá-lo, de calmá-lo. Porem para ele só importava a vitória. Ele sempre procurava a perfeição. Não permitia uma roda torta. Velava por todo observando cada detalhe, sem deixar o menor defeito. Nas competições, só confiava nos relógios. Se os outros eram mais rápidos, saia de volta para derrotá-los. E foi similar como na Fórmula 1."

No ano seguinte em 1974 já obteve seu primeiro campeonato, sendo campeão paulista na categoria júnior, sempre com o número 42. Em 1975 foi campeão paulista na categoria de 100cm³, e vice-campeão brasileiro e do torneio Itacolomy na categoria júnior. E em 1976 foi novamente campeão paulista mantendo o mesmo número de karting, terceiro no campeonato brasileiro, campeão das Três Horas de Karting e vice-campeão paulista todo na categoria 100cc.

Em 1977 com 17 anos participou pela primeira vez do campeonato sul-americano feito em São José, Uruguai embora esta vez não pôde usar o número 42 já que como era um torneio internacional os números eram dados pela organização segundo a ordem de inscrição e Ayrton acabou correndo com o número 7... porem obtendo o mesmo resultado de campeão sul-americano. Além disso foi vice-campeão brasileiro no torneio que se organizou em Interlagos e vice-campeão paulista, além de campeão das Três Horas de Kart.

1978 é o começo da verdadeira carreira internacional. Em agosto viaja para Milão para provar os karting DAP dos irmãos Parilla, as probas na pista de Parma-Pancrazio deixaram ao piloto oficial dos italianos, o irlandês Terry Fullerton completamente descrente do que via, porque Ayrton estava baixando o recorde em uma pista que apenas conhecia. Sem perder tempo é contratado pagando $6500 dólares (incluindo equipamento, peças e mecânicos) para correr no mundial de Le Mans em setembro onde pela primeira vez usava o casco pintado pelo Sid Mosca, chegando 6º e sendo a revelação do certame. A revista Karting descreveria: "a segunda eliminatória continha ao novo campeão europeu individual Pierre Knops da Bélgica e ao extremamente rápido Senna da Silva do Brasil usando equipamento DAP. Só esteve em esta série de eliminatórias por uma penalização substancial depois de umas informações de alto barulho nas provas de classificação. Foi uma linda largada limpa e o brasileiro rapidamente desapareceu na distância para não ser nunca desafiado." Venceu a terceira eliminatória, porem na sexta "uma vantagem precoce se perdeu quando teve que se retirar". A mesma revista descrevia as provas de classificação: "O brasileiro Senna da Silva tinha chegado a Europa só 10 dias antes do campeonato. Marcando o terceiro tempo mais rápido com seu compatriota (Mário S. de) Carvalho quinto, Brasil repentinamente era uma força a ser reconhecida e estava a intrigante possibilidade que o campeonato for para um não europeu pela primeira vez." Assim nas finais compreendiam três rondas, na primeira Ayrton acabou 17º, na segunda logo de estar segundo e sair da pista acabou batendo com Mickey Allen enquanto tentava a remontada, e na terceira acabou 6º.
Depois também obteria o 4º lugar no GP de Sugo em Japão onde concorreu com pilotos de todo o mundo "tinha tanta gente que os 20 classificados para cada uma das quatro baterias das semifinais eram definidos em eliminatórias de uma centena de kartistas" e no Brasil se consagra campeão brasileiro em Tarumã, campeão das Três Horas de kart e vice-campeão paulista.

Em 1979 volta a se consagrar campeão sul-americano em San Juan, campeão brasileiro em Uberlândia e campeão das Três Horas de Kart. É vice-campeão paulista e também vice-campeão mundial em Estoril concorrendo desta vez com o número 15 e indo como favorito. Em uma das séries classificatórias sofre um acidente "O acidente foi na terceira semifinal onde só necessitava o segundo lugar para ter a pole-position para a primeira final. Então fiquei em segundo lugar, perseguindo, justo detrás do líder e repentinamente seu motor parou, bati nele e dei uns giros fora da pista. Sai novamente e acabei undécimo. O líder era... Fullerton! Esse acidente eventualmente me custou o título. O campeonato foi decidido pelos lugares das semifinais." E acabou 8º nessas primeiras rondas.
Mas para esse ano tinham mudado as regras e no final as melhores duas posições contavam para as três finais, em caso de empate se usaria novamente o grid da primeira final nesse grid Ayrton largava 7º...
Na primeira final Ayrton pega a liderança e a mantem durante sete voltas mas se passa e sai de pista a pouco do final e acaba em quinto lugar.
Na segunda final acabou segundo detrás de seu parceiro de equipe na DAP, o holandês Peter Koene, e finalmente venceu a terceira e última final. Estava empatado em pontos com o holandês e o tinha derrotado no enfrentamento direito, mas no primeiro grid Koene tinha largado 6º ultrapassando-o nas classificatórias por apenas 4 décimas... assim pela primeira vez sentiu que tiravam um título de suas mãos porque se não tivesse tido a mudança de regras ele teria sido campeão.
A zanga e a decepção foram enormes "foi o ano que mudaram as regras. Anteriormente se tinha um empate era decidido por teus resultados na terceira final. Agora era decidido pelos resultados das semifinais."
Suponho que essa decepção fez que insistira na persecução deste título inclusive até quando já era campeão de Fórmula Ford. Infelizmente é o único que ficou pendente nas pistas.

Para o ano de 1980 Ayrton já tinha 20 anos e recebeu um convite tentador para correr na Van Diemen sem a obrigação de levar patrocinantes, mas pressionado por seus pais que eram contrários da idéia, a recusou e disputou mais uma temporada de karting.
Assim foi novamente campeão brasileiro e sul-americano em Uruguai com a presença de Ângelo Parilla e foi competir ao mundial em Nivelles-Baulers, Bélgica. Nas eliminatórias vencidas por Stefano Modena foi décimo após girar em pião mas conseguiu se recuperar rapidamente; e depois das baterias estava 9º.
Sobre a primeira final a revista Karting disse: "Silva ultrapassou Marcel Gysin com o brasileiro sacudindo o punho, aparentemente por ser fechado pelo suíço. Enquanto Fullerton agora tinha a liderança, seguido por Silva e Gysin. Os primeiros oito foram se condensando em uma coluna sólida e Gysin empurrou a Silva para ultrapassá-lo e mandou ao brasileiro fora."
A segunda final é vencida pelo Ayrton mas na terceira final vence o holandês Peter de Brujin e fica com o campeonato, deixando o brasileiro como vice-campeão novamente.
A anedota que mais de 20 anos depois foi famosa por uno de seus protagonistas é que houve um menino de 11 anos olhando esse mundial, seu nome? Michael $chumacher. (Desculpem os fãs de $chumi, porem é mais forte do que eu não posso escrever seu nome sem lhe colocar o verdadeiro valor na frente do seu sobrenome.)



Paradoxalmente quando mais começamos conhecer ao Ayrton Senna piloto já correndo na Inglaterra na Fórmula Ford, menos informações temos do Ayrton Senna kartista que participa em 1981 do mundial de Parma, Itália.
Tinham se mudado as regras sobre os motores passando de 100cm³ para 135cc algo que ele não gostou porque ao seu de 127cm³ evidentemente lhe faltava potência como ele explicava: "Eu era um dos favoritos e estava em uma boa posição para vencer. Mas logo o material que tinha não era bom, o motor e o chassi. Mudaram as regras para permitir motores de 135cc e meu chassi não era o suficiente forte para o motor. Só pôde acabar 4º. Estava muito zangado." Mas igualmente se manteve fiel aos irmãos Parilla da DAP.
Na primeira bateria de eliminatórias Ayrton só pôde ficar em 16º lugar, nos grupos foi 3º três vezes e nas finais 4º duas vezes, obtendo o 4º lugar na geral do campeonato.

A última tentativa por ser campeão mundial nos kartings a fez em 1982 em Kalmar, Suecia com uma equipe antiquada, entregando um inútil último combate onde obteve um decepcionante 14º lugar.
Apesar de tiver ido até Parma no começo da temporada: "Já tem ido à Itália e DAP tem construído um novo chassi. É completamente diferente. O motor ainda não é muito bom mas sabemos onde está o problema e as novas partes estarão prontas logo."
A revista Karting comentava: "Todo ia bem até que da Silva parou em sua primeira volta com um pneu pinchado e não foi permitido de sair novamente já que tinha passado a bandeira xadrez." Devido às condições climáticas, dez corredores saíram em pião na primeira curva da segunda semifinal e "eclipsando os esforços dos finalistas... estava o meteórico ascenso de da Silva, seu motor com abundante fumaça enquanto se abria passo desde o fundo do grid para ganhar 22 lugares no final da corrida. O jovem brasileiro permanece tão simples como sempre apesar do sucesso na Fórmula 2000, e continua afirmando que é o karting que representa o grande desafio."
O relato continua sobre a terceira semifinal: "da Silva realizou outro de seus milagres, mais uma vez escalou não menos de 23 lugares em seu muito sofrido DAP." Na sexta semifinal a mesma coisa: "da Silva de novo recuperou uma tremenda quantidade de terreno." E na própria final: "O assombroso Sr. Silva recuperou meia volta e depois subiu todos os lugares até o 14º."
Seu último título foi se consagrar campeão Pan-americano em Porto Alegre correndo um karting com o número 6.
E assim deixou para sempre os kartings e se dedicou aos carros de máxima potência.

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